Março é o mês em que a voz das mulheres ecoa alto, marcado especialmente pelo #8M, o Dia Internacional da Mulher, uma data que simboliza a luta por igualdade de direitos e reconhecimento das conquistas femininas ao longo da história. Este mês traz com ele a oportunidade de, além de podermos celebrar as conquistas femininas, refletirmos sobre os desafios que ainda são travados todos os dias – especialmente pelas mulheres negras.
A Fundação Lemann preparou este guia de dados que ajuda a promover uma compreensão mais completa e fiel à realidade das questões de gênero. Foram compilados estudos e pesquisas que mostram um panorama dos desafios das mulheres em cargos de liderança, tanto na gestão pública quanto no Terceiro Setor e na academia.
O material aqui apresentado faz parte da campanha #CiteMaisUma, ação que visa reconhecer todas as mulheres que se destacam ou destacaram em suas áreas e muitas vezes são ou foram invisibilizadas.
Um Brasil mais justo e avançado só será possível quando todas tiverem a oportunidade de desenvolver seu pleno potencial e de participar ativamente nas tomadas de decisões.
Histórias sobre mulheres em posição de liderança raramente são destacadas em livros ou amplamente divulgadas. Apesar dos obstáculos impostos pela desigualdade de gênero, inúmeras líderes inspiradoras têm emergido, muitas vezes como pioneiras em seus campos, apesar dos incontáveis desafios.
Pensando nisso, a Fundação Lemann inicia no mês de março a campanha #CiteMaisUma, propondo que, por meio das redes sociais, haja uma mobilização da sociedade para citar e marcar mulheres que sejam referência em sua área de atuação. Encorajamos e convidamos a todos e todas a se unirem a esta iniciativa, com objetivo de refletir sobre o tema e de citar aquelas cujas histórias e contribuições merecem ser reconhecidas e celebradas.
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Confira o guia de dados que ajuda a promover uma compreensão mais completa das questões de gênero.
Opinião dos brasileiros sobre o funcionalismo público no Brasil
Datafolha e Movimento Pessoas à Frente (2023)
Equidade e representatividade: síntese de evidências sobre a presença de mulheres e
pessoas negras em cargos de liderança e autoridade
NERI/INSPER e Fundação Leman (2023)
Desigualdades de raça e gênero no secretariado estadual
GEMAA/UERJ, Fundação Lemann e Imaginable Futures (2023)
Mulheres líderes no setor público da América Latina e do Caribe
Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID (2022)
MULHERES NO TERCEIRO SETOR
De acordo com o Censo GIFE 2022-2023, o percentual de mulheres na composição dos conselhos deliberativos passou de 27% em 2014 para 34% em 2022. A pesquisa contou com 137 organizações associadas ao GIFE. O estudo mostra ainda que, projetando com base na série histórica, só em 2042 será alcançada a paridade entre homens e mulheres nos conselhos.
Além disso, o estudo Governança inclusiva no terceiro setor: gênero e raça nas OSCs do Gema – Consultoria em Equidade e do Instituto Matizes, de 2021, revela que 19% das Organizações da Sociedade Civil (OSCs) têm uma participação muito alta de mulheres, significando que mais de 80% do seu quadro profissional é feminino. Contudo, 46% das OSCs estudadas apresentam um percentual de mulheres em posições de liderança abaixo da média. Destas, 17% possuem baixa participação feminina em cargos de liderança, com 21% a 40% de mulheres ocupando esse espaço, enquanto 29% têm participação muito baixa, com menos de 20%.
O estudo também destaca que, ao considerar o recorte racial, a situação não é promissora: cerca de 58% das OSCs têm um percentual de pessoas negras abaixo da média em suas equipes. Ademais, metade das OSCs possui iniciativas específicas para a contratação de mulheres e pessoas negras, mas mais de 51% não implementam medidas e protocolos voltados para facilitar o acesso de mulheres e pessoas negras a posições de liderança. Além disso, duas em cada três OSCs carecem de canais de denúncia anônima para casos de assédio e discriminação.
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), de 2018, complementam o cenário, indicando que mulheres em OSCs no Brasil tendem a se concentrar em atividades relacionadas ao cuidado e, ainda assim, recebem salários inferiores aos dos homens nas mesmas funções.
MULHERES NA ACADEMIA
A análise profunda do cenário acadêmico e científico brasileiro também revela desigualdades marcantes, tanto de gênero quanto raciais, que caracterizam os espaços de Ensino Superior e pesquisa no país. O infográfico Mulheres na ciência brasileira, publicado pelo Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (GEMAA) em fevereiro de 2022, destaca a proporção de gênero dos docentes vinculados a programas de pós-graduação, evidenciando uma divisão sexual do trabalho que perpetua estereótipos e barreiras históricas. Nota-se uma predominância feminina em áreas associadas ao cuidado e às humanidades, enquanto os homens prevalecem nas ciências exatas e engenharias. Das 80 áreas avaliadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em menos de 30 há participação paritária ou maior de mulheres em relação aos homens.
Além disso, o estudo Desigualdades Raciais na Ciência Brasileira, também do GEMAA, divulgado em novembro de 2023, aprofunda essa análise ao revelar que as mulheres negras são apenas 2,5% das docentes de programas de pós-graduação nas grandes áreas de Ciências Biológicas e Ciências Exatas e da Terra, conforme classificação da CAPES. Sendo a pós-graduação brasileira responsável por mais de 80% da produção científica nacional, esses dados refletem não apenas uma desigualdade de gênero, mas também racial, que limita significativamente a diversidade nos espaços de poder e conhecimento científico no Brasil.
Adicionalmente, destaca-se que o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, órgão de alta representatividade na ciência nacional, nomeou sua primeira ministra mulher somente em 2022, aproximadamente quarenta anos depois de sua fundação. Esse fato ressalta a escassa presença feminina em cargos de liderança, evidenciando as barreiras institucionais e culturais que as mulheres enfrentam no campo científico.
A falta de representatividade e as dificuldades no acesso e na progressão na carreira acadêmica não são apenas questões de equidade, mas também afetam a qualidade e a inovação da pesquisa científica. A diversidade de perspectivas é crucial para o avanço do conhecimento e a sua ausência compromete a capacidade de abordar problemas complexos de maneira inclusiva e abrangente.
MULHERES EM DIVERSOS SETORES
O Fórum Econômico Mundial utiliza o termo gender gap – que pode ser traduzido como “desigualdade de gênero” ou “lacuna de gênero” – para medir as disparidades de gênero em oportunidades econômicas, de saúde, de educação e de participação política em diferentes países. De acordo com o Global Gender Gap Report 2023, os países da América Latina e do Caribe levarão 53 anos para alcançar a paridade de gênero em todos esses setores.
O Brasil ocupa a 14ª posição entre os 21 países analisados na região, além de estar na 57ª posição no ranking global com 146 países, o que evidencia a urgência no desenvolvimento de ações para superar a grande desigualdade de gênero existente no território brasileiro.
Além disso, em 2023, Claudia Goldin recebeu o Prêmio Nobel de Economia, tornando-se a terceira mulher na história a receber tal honraria. Professora na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, Goldin realizou avanços significativos na análise da participação feminina no mercado de trabalho e suas pesquisas concluíram que a redução da disparidade de gênero em termos de emprego e salários beneficia não apenas as mulheres, mas também promove o crescimento econômico como um todo. Goldin identificou que as disparidades entre homens e mulheres no mercado de trabalho ocorrem, principalmente, pelas pausas na carreira ou a necessidade de flexibilidade que as mulheres precisam para cuidarem de seus filhos e familiares. Suas pesquisas também trazem contribuições para superar essas barreiras, incluindo políticas de trabalho mais flexíveis, incentivos para uma distribuição mais equitativa das responsabilidades familiares entre homens e mulheres, e a importância de políticas públicas que apoiem a igualdade de gênero no ambiente de trabalho.
Preencha seus dados e, sempre que tivermos um novo estudo, compartilharemos em seu e-mail.
Encorajamos e convidamos a todos e todas a se unirem a esta iniciativa, com objetivo de refletir sobre o tema e
de citar aquelas cujas histórias e contribuições merecem ser reconhecidas e celebradas.
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